terça-feira, 7 de outubro de 2014

Especialistas explicam força histórica do PSDB e do PT em estados específicos


Jornal do BrasilA corrida eleitoral para o segundo turno vai entrar no terceiro dia. No domingo, as apurações dos votos indicaram que os eleitores terão que voltar às urnas no próximo dia 26. Em alguns estados, os eleitores terão queescolher seus governadores e em todo o país será escolhido o presidente, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). A rivalidade histórica entre os partidos explica os resultados do primeiro turno em alguns estados.
Dilma teve 41,59% dos votos e liderou em 15 estados. Já Aécio, contabilizou 33,55% votos e liderou em nove estados. Entre os que preferiram Dilma, estão o Amazonas, Pará, Amapá, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Aécio venceu em Roraima, Mato Grosso, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Espírito Santos.
Os resultados lembram o quadro político do Brasil em 1930, quando Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e a Região Nordeste, experimentaram o forte crescimento do trabalhismo. Por outro lado, São Paulo mantinha seu conservadorismo e política empresarial. Os reflexos dos anos 30 ainda são observados e, segundo especialistas, têm reflexo direto no resultado das eleições de 2014.
Lincoln Secco, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), diz que “a chave do conservadorismo paulista está na Revolução de 1932. Ali, a elite paulistaconseguiu dirigir efetivamente a maior parte da população num esforço de guerra contra o Governo surgido em 1930. Mesmo derrotada, a elite paulista teve que ser absorvida mais ou menos pelo governo federal”. O professor continua analisando dizendo que “é claro que a classe operária paulista apoiava o trabalhismo, especialmente nos anos 40-50, mas ela se dividiu muitas vezes entre o populismo de direita e o trabalhismo, o qual nunca teve sucesso regional em São Paulo”.
Dilma e Aécio disputam o segundo turno
Dilma e Aécio disputam o segundo turno
Para ele, “São Paulo tornou-se o verdadeiro contrapeso conservador da República pós - 1930. Foi ali que houve a maior guerra civil contra a chamada Revolução de 1930. Foi ali que surgiu o grande apoio organizado  e  civil ao golpe de 1964. E hoje, é em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e na região do agrobusiness - como Goiás e Mato Grosso - que o PT tem maior dificuldade”.
O professor Valeriano Costa, do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp) ressalta que, apesar do PT ter nascido em São Paulo, não conseguiu ganhar força no estado. “O que predominou 1930 e 1945 foi o controle do meio empresarial sob os trabalhadores. Inicialmente através do Ministério do Trabalho e, depois, da CLT. Esse padrão de controle era mais acentuado em São Paulo. Nos anos 30 surgiu o trabalhismo, com a força do movimento operário. Aí está a grande contradição: esse movimento não teve tanta força em São Paulo, que tinha a atividade industrial como principal atividade; mas ganhou força no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, onde predominavam os setores agrícola e de serviços, respectivamente”.
Valeriano explica que “O PTB [Partido Trabalhista Brasileiro, partido de centro-esquerda apoiado por Getúlio Vargas, que tinha força entre o operariado e os setores da classe média baixa] controlava suas filiais em todo o país. Contudo, em São Paulo, o controle era maior. Houve muitas intervenções do PTB nacional em São Paulo. Assim, o trabalhismo no estado sempre foi limitado”.
O professor esclarece ainda que, depois que a ditadura militar começou a entrar em decadência, surgiu o PT, com uma nova proposta trabalhista. “O PT vem como o herdeiro do trabalhismo e não consegue perpetrar em São Paulo, não consegue ser majoritário. O que dificulta ainda mais a situação do PT no estado é a desindustrialização de São Paulo. Não existe mais polarização, dilui-se esse processo produtivo. O PT é forte do ABC paulista e na periferia da região metropolitana e da própria capital, mas, no restante do estado, os programas sociais não interessem para a classe média”.
As dificuldades que o trabalhismo encontrou em São Paulo, explica Valeriano, se devem ao próprio controle do PTB nacional, “que bloqueou o crescimento no estado. Seria até interessante deixar que o movimento crescesse em São Paulo, se o partido não fosse controlado pelo Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro. O pensamento era que, se os paulistas aderissem ao movimento, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro perderiam o controle”.
Sobre o favoritismo do PSDB, um partido de direita adepto à política empresarial, o professore diz: “O PSDB conseguiu reproduzir o esquema criado por Ademar de Barros e Jânio Quadros [ que representavam o populismo de direita]. Uma política de direita com assistencialismo”.

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