quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Luciana Genro chama Aécio para briga e salva debate do marasmo. Dilma agradece e Marina só assiste

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Reprodução: TV Aparecida
Marina Silva e Dilma Rousseff não se miraram. Com um pé no segundo turno, a candidata do PSB praticamente descansou em campo durante o debate promovido pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na terça-feira 16. A presidenta, em contrapartida, voltou a ser o alvo preferencial dos concorrentes. Ela chegou a pedir direito de resposta para rebater uma fala do tucano Aécio Neves sobre a Petrobras. Em uma dobradinha com Pastor Everaldo, o senador mineiro usou as suspeitas de irregularidades na estatal, expostas na delação premiada de um ex-diretor da companhia, para dizer, “na casa de Nossa Senhora”, que os valores cristãos devem ser incorporados à vida pública. “A Petrobras é a face mais visível de um governo que abandonou um projeto de País”, afirmou.
Dilma acusou o golpe e teve o pedido aceito. Na réplica, a petista enviou a resposta-padrão da campanha. Disse não tolerar corrupção e que as suspeitas são investigadas pelo próprio governo. Como tem feito em sua propaganda na TV, ela atribuiu aos governos tucanos uma suposta negligência no combate a desvios e voltou a citar o “engavetador-geral da República”, como era conhecido o procurador Geraldo Brindeiro, que atuou nos anos FHC.
Na pergunta seguinte, foi Aécio quem se tornou alvo, desta vez de Luciana Genro (PSOL). “O Aécio falando do PT é o sujo falando do mal lavado. O PSDB foi o precursor do mensalão, com seu conterrâneo Eduardo Azeredo, e com a Privataria”, disse ela, citando a denúncia do chamado “mensalão mineiro”. O tucano reagiu e chamou a candidata de “linha auxiliar do PT”.
Foi quando a conversa engrossou. “Linha auxiliar do PT uma ova. O PT aprendeu com o senhor. O senhor não tem proposta para debater a corrupção. O senhor é tão fanático pela corrupção que constrói aeroporto com dinheiro público para beneficiar a sua família”.
Aécio pediu direito de resposta, chamou a candidata de irresponsável e disse que o povo mineiro tinha orgulho do aeroporto. Pelo Twitter, eleitores lembravam que Aécio corre o risco de ficar em terceiro lugar entre os eleitores do seu Estado, onde seu candidato, Pimenta da Veiga, aparece 20 pontos atrás do petista Fernando Pimentel nas pesquisas de intenção de voto.
Após o bate-boca, Aécio ajeitou a gravata e mudou de assunto. A troca de acusações acabava de fechar o mais tenso debate entre os candidatos, embora uma de suas protagonistas, Marina Silva, tenha sido poupada desta vez. Com a voz rouca e ar cansado, ela praticamente assistiu os rivais digladiarem.
Ao longo do encontro, a maioria dos postulantes tentou ganhar a plateia com evocações à família e ao direito à vida. Seja lá o que isso signifique. Levy Fidelix, do PRTB, chegou a dizer que os meios de comunicação faziam apologia à homofobia e destruíam os valores familiares. Pastor Everaldo fazia coro. José Maria Eymael, o democrata cristão, estreava em um debate presidencial na mesma linha. Pareciam protagonizar um debate à parte para a eleição de um líder espiritual supremo. Aécio flertou com o discurso carola dos nanicos, mas, ao ser questionado sobre sua opinião a respeito do projeto anti-homofobia em tramitação no Congresso, disse que todo tipo de descriminação deveria ser considerado crime no Brasil. “Inclusive a homofobia.”
Eduardo Jorge, candidato do PV, e Luciana Genro foram quem destoaram do figurino. O primeiro chamou a lei que criminaliza o aborto de “machista” e “cruel”. “Deixa sem assistência cerca de 800 mil mulheres que precisam interromper a gravidez”.
Genro, por sua vez, defendeu laicidade do Estado e o casamento igualitário, provocando constrangimento ao apresentador, que apenas agradeceu, de forma protocolar, a resposta. Ela cumpria, dessa maneira, a promessa feita no início do debate: “Não sou religiosa e não vou me converter ao sabor de uma necessidade eleitoral”. Conseguiu. E salvou o debate do marasmo quase certo. 

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