sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Por que o “mercado” é anti-Dilma?

Por Rogério Jordão | Rogério Jordão – 10 horas atrás Compartilhar77 ]Vira e mexe, nessa campanha eleitoral, aparece nos jornais que o “mercado” é contra a Dilma. Lendo as notícias, demorei a entender que o chamado “mercado” – como se este fosse uma entidade abstrata que nunca dá as caras – é na verdade o mercado financeiro. Nos textos de jornais, porém, o “mercado”, quando parece expressar suas vontades políticas, raramente é identificado. Suas “fontes” de informação, frequentemente, são “consultores” ou “analistas” ou “investidores”, quase sempre ocultos, o que no jargão jornalístico significa que estas pessoas falam em “off” ou off the records. Este ocultamento leva, na verdade, a uma inflação indevida no uso da palavra “mercado” pela imprensa. O chamado “mercado” pode virar, assim, tudo e qualquer coisa. Pode-se resumir a um ou dois investidores que, num determinado momento, precisam se valer da circulação de informações para especular, por exemplo, com papeis na bolsa de valores. O “mercado” teme isso ou teme aquilo nas manchetes, em certas circunstâncias, pode não ser nada mais do que boatos ao vento lançados por bocas miúdas para favorecer ganhos pontuais ou de ocasião. Seja como for, esta hipertrofia no uso da palavra “mercado” não significa dizer que ele não exista. Pelo contrário. Aprendi com um jornalista experiente que conhece a área financeira que o que interessa fundamentalmente ao “mercado” é a relação entre as contas do Governo e o que este pode pagar de juros da dívida pública. O Brasil tem uma dívida pública que vem de décadas e supera 2 trilhões de reais. Os governos nunca pagam essa dívida, mas sim os juros dela, a “rolagem”; para tanto o governo emite ou negocia títulos. Foi com a manutenção dessa engrenagem que Lula se comprometeu em 2002 quando lançou a Carta ao Povo Brasileiro, garantindo ao “mercado” que caso eleito honraria os compromissos. Isto significa: se comprometer com o “superávit primário” (a economia que o governo faz para pagar os juros da dívida para o “mercado”), manter a estabilidade econômica e tudo o mais. Isto Lula fez com maestria durante seus dois governos – ele foi o “cara”, disse Obama (para saber como Lula e o PT ganharam a confiança de Washington e Wall Street, com a ajuda de FHC e dos tucanos, recomendo vivamente a leitura do livro “18 dias”, do professor da FGV Matias Spektor). Aparentemente Dilma não quebrou nem pretende quebrar este compromisso de fundo, vital, com o “mercado”, ou seja, com aqueles que lucram com o rolar da dívida pública (tema crucial jamais debatido em campanhas – o que o governo paga anualmente de juros no Brasil equivale a dez vezes o orçamento do Bolsa Família). Mas, mesmo assim, é inegável que o “mercado” não quer Dilma. Demorei a entender o porque, mas acho que cheguei perto de uma conclusão (e já está na hora de colocar um ponto final no post). O “mercado” não gosta da maneira como este governo faz a gestão das contas públicas, o que os jornais e a oposição chamam de “operações heterodoxas” ou “contabilidade criativa”. O Governo é acusado de embaralhar seus dados econômicos, transferindo dinheiro de fundos e de caixas para outros fundos e outros caixas para poder “fechar” as contas públicas, que sofre com a falta de crescimento econômico (para não falar na intervenção em preços como o da gasolina, mantidos artificialmente baixos para segurar a inflação). Este modo de operar gera uma dúvida de futuro sobre as reais capacidades do Governo de continuar a pagar os juros da dívida, pois os dados básicos não estariam “claros” (ou “transparentes”) o suficiente. Uma questão, afinal, de o Governo demonstrar que administra a dívida de forma que esta não se torne impagável – que é quando um país quebra. Não há luta do bem contra o mal: é uma questão de capacidade de pagamento a curto, médio e longo prazos. É uma pena que este seja um tema tão espinhoso e difícil de entender, pois ele é fundamental. Ao colocar na TV propagandas mostrando bancos como agentes do mal, o PT, embora possa obter dividendos eleitorais imediatos, mais confunde do que esclarece, pois o partido já não é um antagonista real dos banqueiros há muito tempo (desde 2002, com certeza). No final fica até um situação curiosa. Enquanto o “mercado” odeia Dilma, esta é identificada por eleitores (39% pelo Ibope) como a candidata que “representa o sistema financeiro” (mais do que Aécio e Marina). O eleitor entende do seu modo o país em que vive.

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