terça-feira, 13 de agosto de 2013

Primárias sepultam sonho do terceiro mandato



Buenos Aires - Com quase 100% das urnas apuradas nas eleições primárias argentinas, realizadas  domingo, seguidores do governo de Cristina Kirchner já reconhecem que o sonho de reter o poder em 2015 acabou. O kirchnerismo teve seu pior resultado desde 2003, quando Néstor Kirchner (falecido em 2010) foi eleito com apenas 22% dos votos. A Frente pela Vitória (FPV), ala peronista criada pelo casal Kirchner, obteve apenas 26,31% dos votos nas primárias de domingo, que definiram os candidatos dos partidos às eleições parlamentares de outubro. O desempenho ficou abaixo dos 30,67% obtidos há quatro anos.

“Ficou claro que não há possibilidade de uma segunda reeleição”, afirmou o filósofo Ricardo Forster, um dos inspiradores do governo e líder do grupo de intelectuais chamado Carta Aberta, que apoia Cristina Kirchner. O sonho era de ter uma “Cristina Eterna”, como havia proposto a deputada ultrakirchnerista Diana Conti e sua férrea defesa de reformar a constituição para permitir sucessivos mandatos de Cristina. Forster também é pré-candidato a deputado na lista oficial liderada por Juan Cabandié, que obteve o segundo lugar na capital federal com 18,9% dos votos, bem atrás do rabino Sergio Bergman, que obteve 27,5% pelo partido Proposta Republicana (PRO).

Das 24 províncias, incluindo a Capital Federal, a FPV ganhou somente em 9 e todos os grandes distritos eleitorais ficaram em mãos opositoras. Cristina Kirchner perdeu até em casa, na província de Santa Cruz, onde a União Cívica Radical (UCR) ganhou com 44% dos votos, deixando o segundo lugar para a FPV, com 23%. Forster atribuiu a derrota oficial a vários “erros e problemas de comunicação” e às repercussões negativas geradas pelos meios de comunicação pelas inúmeras denúncias de corrupção envolvendo integrantes do governo e a própria presidente.

Para o cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nueva Mayoria, a derrota é explicada “pelo desejo de renovação política, especialmente porque nestes dez anos de governo as políticas se aproximaram mais da Venezuela que do Brasil e isso provoca rejeição na sociedade”.

Nenhuma derrota foi mais dura que na província de Buenos Aires, que costuma definir as eleições presidenciais, já que é o colégio eleitoral com quase 38% dos eleitores e onde Cristina apostou todas as fichas. O analista político Carlos Fara, da Fara Associados, explicou à Agência Estado que a vitória do prefeito de Tigre encabeçando a lista de deputados da opositora Frente Renovadora, Sergio Massa, o coloca no ranking de candidatos à presidência em 2015, quando expira o segundo mandato de Cristina. “Massa passa a ser um candidato do quadro de concorrentes à vaga presidencial, mas não necessariamente um aglutinador de voto peronista”, disse ele.

O analista acredita que o voto peronista nas presidenciais ficará dividido, provavelmente, entre Massa e um candidato kirchnerista, que ainda não surgiu. O analista explicou que a vantagem de Massa é que ele “toma votos de todos os lados, não só o peronista”.

A carreira presidencial de Maurício Macri, atual prefeito de Buenos Aires, pelo partido Proposta Republicana (PRO), também foi reforçada pelo bom desempenho de seus candidatos. E integrantes de seu gabinete já anunciaram a construção de sua candidatura. Porém, “o melhor resultado nestas primárias foi da União Cívica Radical (UCR) e suas alianças”, ponderou Fara. O ex-vice-presidente de Cristina, Julio Cobos, teve uma vitória contundente em Mendoza, com 44% dos votos, deixando a FPV com 26%, e volta ao pódio de possível candidato dos radicais, lugar que disputaria com o senador Ernesto Sanz.

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