quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Crea constata que obra em que operário foi atingido por vergalhão no pescoço é irregular


RIO - Após vistoria realizada nesta quinta-feira, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) constatou que é irregular a obra em Copacabana, onde um operarário foi atingido por um vergalhão no pescoço enquanto trabalhava, na quarta-feira. O presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, afirmou, por meio de nota enviada na tarde desta quinta-feira, que não há nenhum engenheiro ou empresa responsável pela execução do serviço. O conselho vai enviar uma cópia do relatório da vistoria para a Secretaria Municipal de Obras no início da próxima semana. A construção onde Francisco Bento Barroso, de 47 anos, se acidentou está localizada na Ladeira dos Tabajaras 621.
"A função do conselho é fiscalizar o correto exercício da profissão. Nesse caso, não havia nenhum engenheiro ou empresa responsável que pudesse responder pelas intervenções realizadas no local, por isso, a obra é configurada como irregular", disse Agostinho, em nota.
Jaques Sherique, vice-presidente do Crea, acompanhou a vistoria. Segundo ele, a apuração concluiu que o acidente aconteceu quando o operário, que estava no alto de uma laje, se inclinou na direção de outra para pegar um cigarro com um colega, tropeçou e caiu em outro pavimento, furando o pescoço no vergalhão.
Vergalhão que feriu operário atingiu nervos (Reprodução/TV Globo)

Sherique destacou, ainda, que, se a obra fosse regularizada, o correto seria a instalação de uma proteção, conhecida como guarda-corpo. Outra solução seria manter o funcionário preso por um cinto de segurança, evitando a queda.
Ajuda no momento do acidente
O pedreiro Ronaldo Gonçalves de Lima, de 36 anos, se preparava para almoçar quando ouviu um pedido de socorro. Na obra ao lado a que ele trabalhava, em Copacabana, na Zona Sul, encontrava-se Francisco Bento caído com um vergalhão atravessado no pescoço. Ronaldo correu imediatamente para pegar uma lixadeira e desceu para ajudar. O pedreiro contou com a ajuda do filho, Lucas Mendes de Lima, de 16 anos, para cortar o vergalhão. O acidente ocorreu por volta 12h30m, mas Ronaldo disse que o socorro dos bombeiros demorou mais de 30 minutos para chegar.
— Nunca tinha visto nada igual! O mais importante era salvar a vida dele. Era só nisso que a gente pensava - disse o pedreiro.
De acordo com Ronaldo e o filho, Francisco estava muito nervoso e durante todo o tempo em que aguardou o socorro tentou arrancar o vergalhão do pescoço, sendo impedido pelas pessoas que estavam ao redor.
— Ele ficava repetindo "Moço, me tira daqui. Tira esse ferro do meu pescoço". Estava muito assustado - contou Lucas.
Em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, médicos do Hospital Miguel Couto contaram que o operário deu entrada na unidade de saúde às 13h30m de quarta-feira com um vergalhão atravessado na parte posterior do pescoço, do lado direito e saindo pela nuca. A posição do objeto impediu o exame de RX, e o paciente foi levado diretamente para o centro cirúrgico. Segundo o cirurgião Alexandre Azevedo, a maior dificuldade da operação foi conseguir isolar os vasos sanguíneos para evitar uma hemorragia durante a retirada do vergalhão.
O médico ressaltou, no entanto, que a imagem foi mais impactante do que a técnica utilizada para retirada do objeto. A cirurgia durou cerca de duas horas. O paciente encontra-se consciente na Unidade de Terapia semi-intensiva, onde deve permanecer por pelo menos quatro dias. Ainda não há previsão de alta. Devido aos ferimentos, Francisco pode sofrer neuropraxia, quando a pessoa perde a sensibilidade da face e da boca, segundo os médicos. No entanto, o cirurgião ressalta que o problema pode ser temporário. Nos próximos dois dias, o paciente também corre risco de infecções e de uma trombose segundaria da artéria carótida, que pode levar a formação de coágulos que acarretaria em um acidente vascular cerebral.
O diretor do Miguel Couto, Luiz Alexandre Essinger, comentou que o caso confirma uma velha lenda médica:
— Na medicina, a gente tem o conhecimento de que doenças ou lesões raras costumam vir em pares. Quando uma se apresenta, em questão de dias, semanas ou poucos meses outro caso semelhante ocorre - disse o diretor, referindo-se ao operário Eduardo Leite Costa que, em agosto, foi operado na unidade de saúde após ter o crânio atravessado por um vergalhão.Na manhã desta quinta-feira, o Conselho Regional e Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) vai vistoriar a obra na Ladeira dos Tabajaras, na altura do número 621, em Copacabana, onde o operário trabalhava.
Acidente com operário provoca briga por causa de terreno
O acidente envolvendo o operário Francisco Bento Barroso, que teve o pescoço perfurado por um vergalhão, ocasionou uma confusão que acabou na 12ª DP (Hilario de Gouveia). Existe uma briga sobre a posse do terreno. A comerciante Aparecida Borges, de 57 anos, alega ter comprado os terrenos há cinco meses, onde estão sendo feitas as obras. Ela reclama que as construções de três meses não tem autorização dela. O Crea já constatou que as obras são irregulares. No entanto, o delegado Márcio Mendonça ressaltou que até o momento só instaurou inquérito de lesão corporal:
— Existe uma discussão jurídica entre duas pessoas em relação a posse do terreno. Não cabe a delegacia resolver. Isso tem que ser judicialmente. O que vamos realizar é se houve ou não omissão de alguém no acidente.
Em agosto, um caso ainda mais grave
O episódio que chamou a atenção e garantiu até fama a um médico do Miguel Couto, em agosto desse ano, envolveu o operário Eduardo Leite Costa, de 24 anos. Ee foi operado na unidade após ter o crânio atravessado por um vergalhão. Eduardo trabalhava numa obra em Botafogo, quando o pedaço de ferro de dois metros de comprimento se desprendeu e despencou do quinto andar do prédio.
O vergalhão atravessou o capacete de Eduardo, perfurou o seu cérebro e saiu pela região entre os olhos, acima do nariz. O impacto foi de cerca de 300 quilos. No caso de ontem, não foi a mesma equipe médica que fez a cirurgia.
Surpreendentemente, Eduardo chegou consciente ao hospital, falando normalmente. Ele deu informações a seu respeito à equipe médica, como seu nome e idade. Só não sabia direito o que tinha acontecido com ele para o vergalhão ir parar em sua cabeça.
Eduardo foi submetido a uma cirurgia de cinco horas e não apresentou nenhum tipo de sequela, o que foi considerado mais um milagre. Ele permaneceu durante cerca de uma semana no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da unidade e teve alta duas semanas após o acidente.


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